Por David da Silva
Tem pessoas que se tornam símbolos do lugar onde vivem.
Aqui no Parque Marabá, em Taboão da Serra, todas as vezes que toca uma música do Raul Seixas, alguém logo comenta: “Olha o Maia, aí!”.
Antonio Maia Marques, ou simplesmente Maia, não mora mais no bairro. Mas continua uma das figuras mais populares do pedaço.
Admirador do cantor e compositor Raul Seixas, a fisionomia de Maia é uma homenagem explícita – barba recortada e cabelos longos idênticos ao ídolo. Sua roupa preferida são camisetas com a imagem do artista. E tem um Raul tatuado no braço.
“Enquanto você se esforça pra ser...”
Muita gente quer ser líder na comunidade, mas, por mais que se esforce, não consegue. Maia teve uma liderança natural no Pq Marabá. Nunca quis se impor, mas era uma referência.
Foi diretor do Vumo, muito criativo na bolação de bandeiras, uniformes e aderêços para torcida – veja ele com uma das nossas formações aqui, e também aqui.
Maia ainda atuou nos times Leões do Marabá, Estrela e Baby Leão.
“Quando eu te escolhi para morar junto de mim...”
Maia saiu ainda menino de onde nasceu em Nova Canaã, cidade de 20 mil habitantes no sul da Bahia, a 490 km distante de Salvador.
Foi morar com a mãe no interior de São Paulo, em Lucélia. Lá conheceu sua primeira namorada. Teve de deixar a garota para vir exercer a profissão de metalúrgico na capital paulista. Tornou-se profissional especializado, com nove cursos no Senai.
Aqui constituiu família com outra moça. Quando se aposentou na metalúrgica Macotec, separou-se da esposa, e voltou a morar em Lucélia.
Ali reencontrou sua antiga garota, e reviveu com ela por um tempo os bons tempos de juventude quando sentiram pela primeira vez o gosto da maçã.
“Perguntas não vão lhe mostrar...”
Maia diz que certa vez eu o homenageei com uma reportagem. Não lembro disto. Também não me lembro de ter sentado com ele para fazer uma entrevista com formalidade.
Tudo o que sei de sua vida, foi em conversas nas beiras de campos da várzea, ou nas nossas esticadas em bares após o futebol.
Num desses papos descontraídos Maia me contou como conheceu a arte de Raul Seixas. “Em 1974 eu estava na casa de um amigo, batendo papo no quintal. Ele trouxe um toca-discos portátil, e mandou eu escutar uma música pra ver o que eu achava. Era o Raul cantando Medo da Chuva. Aquilo me arrepiou na hora. Nunca mais eu parei de curtir as músicas dele”.
Quando Maia me contou isto, estávamos na beira de um campo, com o sol a pino. Mas seus braços voltaram a se arrepiar com a lembrança.
“Me dê um corpo vivo para eu encher minha pança...”
No período em que morou no Pq Marabá, Maia foi personagem de um fato engraçado e ao mesmo tempo perigoso.
Quem conta o caso é o nosso diretor Abel:
Num belo domingão Maia servia um churrasco para amigos no quintal de sua casa. Nisto passa pela rua uma mulher lindíssima, sensual, cheia de curvas.
Maia espichou o pescoço por cima do muro. Já estava pronto pra cortejar a moça, com toda a diplomacia que Raul Seixas ensinou: “Vem cá, mulher! Deixa de manha / minha cobra quer comer sua aranha!”
Só que o muro era protegido por lanças. E Maia espetou o pescoção atrevido numa daquelas pontas. Terminou seu domingo na enfermaria da Santa Casa de Misericórdia...
“Não pense que a cabeça aguenta se você parar...”
Hoje Maia está com 59 anos. Mora no bairro Morada do Sol, em Lucélia, a 586 km de distância de São Paulo. Mas mesmo aposentado não ficou "com a boca escancarada cheia de dentes / esperando a morte chegar". Aproximou-se das lideranças esportivas do lugar, e é presença garantida no futebol amador da cidade.
Sempre inquieto e disposto a participar da vida social, no Maia cabe direitinho aquele verso do Raul Seixas na música Carpinteiro do Universo: “nascí pra querer ajudar e querer consertar o que não pode ser...”
Para o final do ano o Vumo está preparando uma grande festa de confraternização. O Maia já está convocado para vir ao Pq Marabá contar mais detalhes de como se recheia com futebol e boas amizades a história de "um dito cidadão respeitado".
No próximo sábado 21 de agosto, completarão 21 anos da morte do Raul Seixas. No Pq Marabá, quando o rádio tocar uma música do "maluco beleza", não tenha dúvida que alguém vai perguntar: “E o Maia, hein?”
Meu caro David: estive lendo esse seu blog sobre o Vumo. Os perfis são muito bem escritos, sempre com o seu bom humor de sempre. Muito legal. Eu me lembro do Pavão, inclusive tenho o Guia da Placar do Campeonato Brasileiro com ele no Atlético Paranaense. Vou estar sempre por aqui.
ResponderExcluirMatheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com
Amigo Matheus, o Maia vai gostar muito desta sua visita ao nosso blog, pois ele tb é palestrino. E vc já está intimado a vir tomar umas brejas e degustar um churrasco em nossa sede social.
ResponderExcluirValeu David,nosso amigo Maia é um cara sensacional,aliás já estou com saudades desse maluco beleza.Abraço.
ResponderExcluirMarquinhos.
Creio que devo iniciar meu comentário confessando minha surpresa ao ler esta postagem. Como amante da Escrita e da Literatura que sou, também confesso que me veio uma breve pontinha de inveja, pois eu mesma poderia ter contado essa história. Mas certamente fico muito contente em ver que encontraram as palavras pra descrever um pedaço dele. De fato um cara bacana, uma figura que só quem obteve a honra e o prazer de conhecer consegue compreender. Um batalhador, autêntico, criativo. Impossível citar todos os adjetivos pertencentes. Após todos esses anos, audaciosamente arrisco uma frase:
ResponderExcluirPai, tu é um exemplo da liberdade de ser.
Parabéns David, ótimo texto.
Jordana Machado
Pô David, muito bacana a homenagem. Eu sei que costumamos ser saudosistas quando escrevemos sobre quem gostamos e com o Maia 'Seixas' Marques não poderia ser diferente. O cara é uma daquelas figuras do bem que fica marcada em nossas lembranças para sempre. Pô cara! eu estava torcendo para que ele ficasse com a primeira namorada (hahaha). Muito legal saber que ele está bem. Ele tinha muito de Raul e de nordestino em sua personalidade. Apesar de simples é muito inteligente e tem uma visão muito prá frente das coisas. Digo isso porque tive o prazer de passar horas conversando sobre tudo com o cara lá na 'Carbuclinic'. É esse o nome? Se vê-lo manda aquele abraço do Gaucho.
ResponderExcluirTrabalhei com o Maia na Macotec e eu e uma turma de amigos na época gostávamos de Raul e na própria Macotec, personagens que o Maia conhecia: Paulinho do apontamento, eu Osni do planejamento e o Charles. O Maia na ocasião fazia um trabalho por fora de silkscreen, daí desenhamos um logo e pedimos para ele estampar nossas camisetas da Thurma Pró Seixas. O legal é cada um escolheu a música predileta e assim as camisetas foram estampadas por ele. Por sinal a minha era O Segredo da Luz. Lembro até do nome da empresa dele: JoCrisMaia... Cara que saudade e sem contar que ele é uma figuraça, espero que ele leia este post. Abraço e lembranças a ele e sua família.
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